sábado, 15 de março de 2014

O Demônio devorador de fetos

Tudo isso aconteceu comigo, quando eu voltava pra casa do trabalho, já tarde da noite, sob o véu de uma chuva fina. Naquela ocasião, um problema corriqueiro do trabalho havia causado o meu atraso, o que não era a primeira vez que ocorria, tampouco seria a última, caso não acontecesse o que venho aqui relatar.
Minha casa ficava em um condomínio afastado da cidade e do meu emprego, gastava cerca de 30 minutos de carro. Em dias de calor era uma estradinha cativante, pois preservava um clima fresco mesmo nos dias mais quentes de verão.  A estrada não tinha asfalto e ficava as margens de um rio, cercado por grandes árvores e povoada por pássaros, sagüis esquilos e muitos outros animais. Mas esta aparência benevolente tomava um ar macabro durante as noites, principalmente quando chovia.
Eu era casado e minha esposa, madame Fofura, estava esperando nosso primeiro filho, há cerca de três meses. Como eu a amava! Oh Deus, ela era a razão da minha vida. Sim, eu estava levando a vida que pedi a Deus. Queria chegar logo em casa, vê-los seguros e protegidos.
Devido a algum problema, ocasionado provavelmente pela chuva, a companhia de telefone estava sem sinal e não consegui comunicá-la do imprevisto que ocasionara o meu atraso. Minha ansiedade por chegar logo em casa, me fazia acelerar cada vez mais, e à medida que o carro ganhava velocidade, em mesma proporção aumentava também a chuva e o frio. Minha visão foi ficando cada vez mais comprometida, e ao fazer uma curva fechada, colidi violentamente contra uma árvore que a chuva derrubara. Felizmente eu estava com cinto de segurança, e tive apenas alguns ferimentos nas mãos e nos pés... Nada grave. Mas eu ainda estava longe de casa e uma revolta gigantesca se apoderou de mim, ia ter que terminar o trajeto a pé. Impaciente e exausto caminhei por mais de uma hora debaixo daquela chuva, daquela noite gelada de outono.
Após percorrer o ultimo trecho sombrio da estrada, ornamentada por bambus encurvados até o chão, pude avistar no alto da colina, minha pequena casa, e fiquei um tanto assustado por não ver nenhuma luz acesa. Sai correndo, bastante preocupado, queria saber o que estava acontecendo.
Cheguei em casa, ofegante, a porta estava trancada e com todas as luzes apagadas. Chamei pela minha amada, e tudo que ouvi foram os uivos do coiote e o sopro do vento que assombrava a minha alma. Experimentava então um sentimento de pânico!
Corri para nosso quarto e ao ascender a luz, meus olhos viram a imagem que acabara com minha vida. Minha amada esposa estava deitada em nossa cama, com a barriga para cima. Não havia peles no rosto, nos braços nem nas pernas, era um corpo em carne viva! Mas nada dessa assombrosidade de comparava com a monstruosidade que se segue.
Havia marcas de mordidas, aparentemente humanas, nas costelas e nos seios e tudo que tinha na barriga era um rasgo, feito com mordidas, e o pior de tudo: Meu filho tinhas sido arrancado violentamente! Nosso bebê tão esperado não estava mais em seu ventre!
Eu não pude acreditar nos que os meus olhos viram, não tenho palavras que expressem minha revolta diante de tamanha atrocidade. Perdi tudo de mais importante na minha vida. Relutante, não me rendi e vasculhei a casa em busca do feto. Sem sucesso. Não encontrei nada, nem sequer um único vestígio.
Rendi-me. Derrotado, em prantos, exausto e possuído pelo desespero, decidi passar minha ultima noite com minha esposa. Deitei junto ao cadáver, já duro e gelado. Abracei-o, beijei-o  e adormeci ao seu lado.
Acordei sendo carregado por policiais que me jogaram em um camburão e me levaram em uma sala fria e pouco iluminada. Fui espancado sem saber o que estava acontecendo. Perdi vários dentes, me quebraram muitos ossos, até que em um momento, a fúria dos cassetetes cessou-se.
Eram cinco policiais que me rodeavam, e todos eles gargalhavam diante de meu estado. Nem toda dor que meu corpo sentia se comparava com agonia que aqueles risos me proporcionavam. Eu não suportava, eu agonizava e me contorcia. Minha cabeça estava sendo esmagada por dentro, eu não suportava mais tanta angustia no meu coração. As risadas que me atormentavam eram cada vez mais ensurdecedoras. Eu comecei a gritar, a gritar e a gritar. Gritava cada vez mais alto, até que não pude suportar e confessei!
Sim, eu confesso! Eu arranquei o feto com meus dentes e o devorei ainda vivo!


Nenhum comentário:

Postar um comentário